quinta-feira, 25 de junho de 2009

Introduzindo.


Infelizes aqueles que não conhecem os segredos de um banheiro. O pequeno cômodo provido de uma privada e uma pia detém ao menos dois terços dos meus indignos, carnais e lunáticos segredos. Lágrimas, risos, amizades, tentativas de suicídio, sexo, luxúria e materialismo: estão todos impregnados nas paredes dos muitos banheiros por onde passei. Seria um total descaso sentimental excluí-los de minhas crônicas. A princípio, penso no banheiro como o único lugar do universo onde, após fechar a porta atrás de si, podemos ser aquilo que realmente somos. Sozinhos (nem sempre), olhamos para o espelho sem sorrir, e lá está a merda e a virtude que lutamos arduamente para esconder de todos. Essa realidade, a propósito, é inerente a qualquer espelho de sanitário, independente de quem seja você. Uma vez num banheiro, é como se aquelas paredes isolassem o indivíduo de maneira hermética do meio exterior, e tem-se inevitavelmente a sensação de que naquele lugar seu deus é incapaz de te observar. Forma-se então inconscientemente (presumo eu) um local moralmente nulo, onde as leis não existem de fato.
Outro aspecto que me faz admirar este esplêndido
cômodo é o de ele ser o único que contempla -por função própria -o pior lado de nós. São despejados na privada não apenas fezes e urina, mas sentimentos e resíduos de pensamentos que acumulamos. São expelidos o ódio, o desejo, a sede de vingança, a cobiça: sensações que muitas vezes não nos permitimos na sala-de-estar. E é talvez nesse ponto que queria este pseudo-cronista chegar. Eis o motivo contundente do nome desta página: ser um banheiro sujo de beira de estrada ou o banheiro do seu quarto. Este é o lugar onde você pode olhar para o espelho e chorar, olhar para o chão e deixar alguns segredos. Sejam bem-vindos e sintam-se donos desta privada.